Vejam bem, sentir-se pertencente a um território nacional é necessário. Contudo, o problema que se coloca a partir desse objetivo é o fato de ele justificar a redução de toda a potencialidade dos estudos geográficos a poucos referenciais a serem memorizados.
A complexidade e a dinâmica espacial ficam enrijecidas numa única forma de pensar o conhecimento geográfico, ou seja, os referenciais geográficos se tornam apenas aqueles de interesse do Estado-Nação. Por exemplo, por parte dos especialistas que elaboram os conteúdos oficiais e didáticos, o objetivo de “conhecer as características fundamentais do Brasil [...]” (BRASIL, 1998) não necessariamente permite pensar sobre as diferentes lógicas espaciais, e sim elege os elementos entendidos como fundamentais para se ter uma única ideia, uniformizante, de Brasil.
Nesse sentido, o conteúdo relacionado ao Brasil torna-se fixo e uniforme, cabendo abordar apenas alguns fenômenos, aqueles considerados oficiais. Ou seja, são eleitos alguns lugares que devem ter seus nomes e características gerais memorizadas (como região, área, extensão etc.). Padroniza-se, assim, o sentido de território a ser identificado como comum a todos(as).
Ao observar atentamente as afirmativas das questões, podemos perceber que todas elas visam – independentemente de estarem corretas ou incorretas – reforçar a imagem espacial do Brasil em sua uniformidade Estado-Nação. Quer dizer, todas fazem referência a um elemento do território que se deve relacionar com a formação do Estado brasileiro, sem atentar para a complexidade de cada região.
“[...] região Nordeste do país.”
“[...] é o mais extenso rio totalmente brasileiro.”
“[...] seca na região da Caatinga, [...]”
“[...] subir o mapa do Brasil [...]” (EXERCÍCIOS..., [2014?])
Peguemos, como exemplo, a questão número 4, que aborda, entre suas afirmativas, a problemática da transposição das águas do rio São Francisco. A questão, por ter várias afirmativas, parece exercitar uma maior complexidade na busca da resposta verdadeira. No entanto, percebemos que as alternativas são, na verdade, apenas formas de deduzir, por comparação, as respostas verdadeiras, já que o exercício se restringe a uma “pegadinha”, visando confundir a compreensão.
Uma das duas alternativas, parece, será a correta: as variáveis “c” e “e”.
Como a quarta afirmativa também é verdadeira, por dedução, só a variável “e” pode ser a resposta correta. Em vez de tentar exercitar pensamentos de análise, descrição e síntese para que o(a) aluno(a) crie respostas que explicitem referenciais geográficos pertinentes com a complexidade da questão, prefere-se fazer um jogo de simulação para confundir o aluno no processo de deduzir a resposta a partir das informações memorizadas como corretas.
Enfim, adotamos as questões de vestibular para evidenciar que os conhecimentos em conteúdos escolares são quase sempre elaborados com o intuito de uniformizar a geografia. Não existe, por exemplo, dinâmica espacial nesse processo. A complexidade territorial das vidas que fazem essa espacialidade acontecer geograficamente simplesmente não é abordada.