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Tópico III - Multiletramentos na Esfera Artístico-Literária

Poesia, Design Gráfico e Tecnologias Digitais

 

Em nossa lista de poetas-músicos, mencionamos também Arnaldo Antunes. Ele é um músico-poeta interessante justamente por explorar as muitas possibilidades do poético: a canção, a poesia escrita impressa, o poema visual (inclusive os caligramas), o poema digital. Por isso, vamos abordá-lo para iniciar nosso tema.

Para começar, dê uma “passeada” por um site dedicado ao poeta. Navegue pelas barras “Livros”, “Texto” e, sobretudo, “Artes”. Na barra “Textos”, o primeiro deles que aparece é O Buraco do Espelho, poema que saiu no livro As coisas (1993) e depois foi musicado com o auxílio da luxuosa guitarra de Edgar Scandurra e gravado no CD O Silêncio (1995), tendo sido também trilha sonora do filme Bicho de Sete Cabeças (2011).

Trata-se de um poema/canção/trilha sonora que faz clara menção à divisão psíquica típica da loucura, por meio da metáfora do espelho de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Por isso, foi utilizada como trilha sonora do filme.

Assim, Arnaldo acaba sendo um performer multimídia (vídeo, áudio, escrita, performance, design), que se vale da transmídia e das translinguagens para construir sua obra. No caso de O Buraco do Espelho, a precedência da poesia (e, antes dela, a de Alice no País das Maravilhas) é patente.

Vemos no vídeo que Arnaldo “canta” a canção quase como se declamasse o poema. Aqui também a fala tem privilégio sobre a música.

Fonte: O buraco... (2007).

Os Buracos do Espelho

 

o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde eu caí


pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some


a janela some na parede
a palavra de água se dissolve
na palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve


já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira
uma orelha alerta, outra ligada


o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora

 

(ANTUNES, 2009)

 

Arnaldo não explora apenas o verbal e sua sonoridade em combinação com a música, para efeitos estéticos, ele também explora o caligráfico e o tipográfico, as imagens e os recursos digitais na obtenção desses efeitos, sempre navegando por várias mídias (vídeo, áudio, imagens estáticas e dinâmicas).

Acesse novamente o site a ele dedicado e clique na aba “Artes”. Veja que lá temos as opções: “caligrafias”, “artes plásticas”, “artes gráficas”, “poemas visuais”, “instalações”, “performances” e “poemas digitais”.

Vamos explorar alguns de seus poemas visuais mais conhecidos e alguns de seus poemas digitais (ou ciberpoemas), extremamente interessantes.

Nos poemas visuais, herdeiros do Concretismo, podemos ler, em diferentes direções, que “CROMOS-SOMOS COMO COSMOS-SOMOS” e que “VENTO IN-VENTO DENTRO”, desfazendo a linearidade da escrita por meio da tipografia e do design gráfico visual concreto. Os princípios da poesia visual ganham dinamicidade e avançam com a poesia digital, ou ciberpoemas.

Fonte: Antunes (2002).

 

Fonte: Antunes (2004).


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