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Tópico III - Multiletramentos na Esfera Artístico-Literária

Música, Poesia e Canção

 

O amor, a liberdade, a própria poesia são temas muito “cantados” pelos poetas; mas eles também falam de coisas mais simples, coisas do dia a dia das pessoas, de comidas, por exemplo.

Você gosta de dobradinha? Em Portugal, ela se chama-se dobrada e é um prato típico da cidade do Porto. No Rio de Janeiro, entre os sambistas, ela se chama tripa lombeira. Não há roda de samba que se preze que não sirva tripa lombeira.

Vamos ouvir um samba gravado pelo grupo JB Samba (SP) sobre esse prato delicioso? Clique no ícone para baixar a música.

 

 

 

 Que diferenças você vê entre o poema e a letra do samba? 

Tripa Lombeira

(Grupo JB Samba)

 

Que comida é essa, malandro, que não tem cheiro?

Está faltando tempero, um molho maneiro e coisa e tal.

Diga lá pra cozinheira que a tripa lombeira não está legal.

Diga lá pra cozinheira que a tripa lombeira não está legal. (Bis)

 

Não estou de brincadeira, seu garçom, não leve a mal.

Se a casa é de primeira tem que tratar bem o meu pessoal.

Diga lá pra cozinheira que a tripa lombeira não está legal.

Diga lá pra cozinheira que a tripa lombeira não está legal.

 

Que comida é essa?

 

Que comida é essa, malandro, que não tem cheiro?

Está faltando tempero, um molho maneiro e coisa e tal.

Diga lá pra cozinheira que a tripa lombeira não está legal.

Diga lá pra cozinheira que a tripa lombeira não está legal.

 

Cadê a pimenta, o sal, molho, salsa, cebolinha?

Cadê a farinha? Eu vou lá na cozinha pra dar uma geral porque...

É que a tripa lombeira dessa cozinheira não está legal.

É que a tripa lombeira dessa cozinheira não está legal.

 

Que comida é essa?

 

Que comida é essa, malandro, que não tem cheiro?

Está faltando tempero, um molho maneiro e coisa e tal.

Diga lá pra cozinheira que a tripa lombeira não está legal.

Diga lá pra cozinheira que a tripa lombeira não está legal. (Bis)

 

(Transcrição nossa)

Dobrada à Moda do Porto

(Álvaro de Campos/Fernando Pessoa)

 

Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,

Serviram-me o amor como dobrada fria.

Disse delicadamente ao missionário da cozinha

Que a preferia quente,

Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.

 

Impacientaram-se comigo.

Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.

Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,

E vim passear para toda a rua.

Quem sabe o que isto quer dizer?

Eu não sei, e foi comigo ...

 

(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,

Particular ou público, ou do vizinho.

Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.

E que a tristeza é de hoje).

 

Sei isso muitas vezes,

Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram

Dobrada à moda do Porto fria?

Não é prato que se possa comer frio,

Mas trouxeram-mo frio.

Não me queixei, mas estava frio,

Nunca se pode comer frio, mas veio frio.

 

(PESSOA, 2012, p. 192)


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