Outro gênero musical muito forte também no Brasil, o qual, de maneira original, combina a fala (cantada), o ritmo e a poesia, é o rap. Dayrell (2002) chama a atenção para como esse gênero musical é importante para uma parcela marginalizada de nossa juventude e, consequentemente, para muitos de nossos alunos.
"Nas periferias constatamos uma efervescência cultural protagonizada por parcelas dos setores juvenis. Ao contrário da imagem socialmente criada a respeito dos jovens pobres, quase sempre associada à violência e à marginalidade, eles também se posicionam como produtores culturais. Entre eles, a música é o produto cultural mais consumido e em torno dela criam seus grupos musicais de estilos diversos, dentre eles o rap e o funk. Nesses grupos estabelecem trocas, experimentam, divertem-se, produzem, sonham, enfim, vivem determinado modo de ser jovem." (DAYRELL, 2002, p. 119)
Surgido no Estados Unidos nos anos 1960, o rap foi mais uma manifestação da tradição black americana que surgiu com outras linguagens artísticas, como as artes plásticas, o grafite, a dança – o break – e a discotecagem – o DJ. O conjunto dessas diversas linguagens e práticas constitui o elemento central da cultura hip-hop, que tomou as ruas como o espaço privilegiado da expressão cultural dos jovens marginalizados. O rap, sigla para a expressão “rhythm and poetry” (ritmo e poesia), tem na poesia e na fala (cantada, ritmada) um de seus elementos centrais, atribuição do MC (Mestre de Cerimônias), figura derivada da tradição dos deejays da música jamaicana. Na vertente brasileira, a partir dos anos 1970, tem-se caracterizado como uma poesia marginal de protesto, que reafirma e defende a cultura das periferias urbanas e protesta contra o status quo desigual.
Quanto ao ritmo (“ritmo e poesia”), trata-se de uma apropriação musical, sendo a batida composta pela seleção e combinação (mixagem, remix) de partes de faixas já gravadas, a fim de produzir uma nova música ou um novo ritmo (beat ou batida), mixando ou sampleando os mais variados estilos da black music.
Veja um exemplo de rap, trabalho do grupo de rappers Subsolo presente no álbum Ordem de Despejo, o qual retrata aspectos da vida cultural desses jovens em seu ambiente urbano. Veja a letra, clicando aqui.
Fonte: Cidade... (2008).
Como você caracterizaria a música, isto é, o ritmo representado pela mixagem de beats?
No caso da poesia, isso é, da fala cantada e ritmada que entoa a letra do rap, como você diria que o poeta rapper caracteriza:
a) a cidade;
b) a posição da juventude de sua cultura local na cidade;
c) o modo de ser e os valores desses(as) jovens.
Com base nos interesses e na realidade dos seus(suas) alunos(as), quais aspectos desse rap você discutiria em sala de aula?
Um dos expoentes americanos das artes plásticas ligadas ao grafite e ao universo hip-hop é Jean-Michel Basquiat. Saiba mais sobre o artista, sua vida e obra, clicando aqui.
No Brasil, os grafiteiros, ligados inicialmente ao movimento hip-hop, que obtiveram destaque internacional são Os Gêmeos Pandolfo, do bairro do Cambuci, de São Paulo. Para saber mais sobre os irmãos e suas obras, clique aqui.
Trata-se de uma mixagem de várias faixas de áudio, que você também pode fazer no Audacity. O beat começa com uma música suave em ondas, mixada à fala cantada do rapper, com volume menor. Aos 28 segundos, inicia-se o beat ritmado com som de bateria, e a voz do rapper se sobrepõe, entoando a letra.
Você pode ter mencionado os trechos: “cidade de mentiras”, “cidades impuras, cada um na sua/verdades futuras a saga continua”, “verdades impuras e falsas posturas/o valor de uma vida resumido em faturas” ou “terra de contradições em religiões”.
Nas cidades de mentira, cidades impuras é “cada um na sua” – “se tu quer felicidade, então toma a receita: a vida é curta cumpáde então aproveita, cada um é responsável pela sua colheita”, “cuide do que é seu pra não perder e agradeça a Deus por ele te deixar viver”. “Quem cai e se levanta sempre aprende lições”. Trata-se da luta individual de cada um.
Você pode ter mencionado o beck, o papel e a caneta, simbolizando o rap, com o qual a “mente flutua em busca de novos acessos, novas opiniões/de novos ingressos e outras missões”. É pelo rap que a verdade do jovem “é aceita”.
