Olá, cursista, iniciamos este tópico com uma pergunta: você já se deparou com momentos de aula em que seus alunos e suas alunas pedem (insistem) para jogar futebol? Se isso já aconteceu em suas aulas, é provável que tenha acontecido também com muitos outros docentes de Educação Física.
Pensando nisso, veremos, neste tópico, como o futebol está inserido em nossas comunidades no Brasil e como a mídia interfere na cultura desse esporte. Além disso, discutiremos como as TDIC podem contribuir com as aulas de Educação Física no ensino-aprendizagem e na reflexão crítica sobre o esporte e as implicações das tecnologias, e dos usos dos meios de comunicação, sobre esse tema. Abordaremos também o surgimento do esporte moderno, assim como o entendimento que temos dessa prática nos dias de hoje. E, finalmente, veremos como as tecnologias têm influenciado os esportes de rendimento e como o ensino de Educação Física desponta como um recurso fundamental no fomento da criticidade em relação a esse processo que envolve TDIC, esportes e suas (novas) vivências.
Na atualidade, o esporte representa um fenômeno de grande importância social, econômica e política. Trata-se de uma manifestação cultural multifacetada e polissêmica que se apresenta de maneiras distintas no nosso cotidiano. Em países como o Brasil, por exemplo, a presença de modalidades como o futebol tem-se destacado historicamente, mostrando-se predominante em inúmeros contextos e circunstâncias: nas “peladas”, disputadas em praças, várzeas e em ruas pouco movimentadas; no vestuário, mediante o uso dos uniformes de grandes e pequenos clubes; na tela da televisão, distribuindo-se entre transmissões ao vivo de partidas e noticiários especializados que retratam a rotina dos(as) atletas e as competições.
Frente a essa realidade, é comum que o futebol seja encarado como um componente fundamental de nossa identidade nacional, atuando como símbolo de uma suposta “brasilidade”.
Embora as relações entre o esporte e o sentimento de pertença a uma nação sejam altamente discutíveis, a banalidade desse tipo de associação é bastante reveladora, já que possibilita perceber, ainda que de forma parcial, a unanimidade quanto à legitimidade social do esporte em relação aos demais componentes da cultura corporal de movimento, e a sua hegemonia nessa relação.
Analisar criticamente essa hegemonia, assim como a maneira como ela se expressa na nossa realidade escolar, é uma atividade central para tratarmos do esporte, das suas vivências e de suas possibilidades educativas.
Cursista, o futebol e sua importância para a construção da nação é um tema bastante debatido em diferentes áreas das Ciências Humanas. Na História e na Antropologia, por exemplo, diferentes trabalhos dedicaram-se ao estudo sobre o modo como o futebol foi utilizado na construção de uma dada nacionalidade durante o século XX, em especial, nas primeiras décadas desse século. A importância de desconstruir essa relação como algo “natural”, destacando o caráter histórico, político e social dessa associação, marca boa parte dessas produções. A “paixão” pelo futebol é abordada a partir de uma perspectiva que elucida os elementos datados e contextuais que pautaram essa temática e que perduraram ao longo das últimas décadas. Nesse sentido, destacando a relevância de nos familiarizarmos com essas produções, elencamos alguns trabalhos que problematizam a relação entre o futebol e o sentimento de pertencimento a uma nação. Sugerimos que você selecione algumas dessas leituras e se aproprie delas ao longo do curso. Certamente, elas serão um bom suporte crítico para os debates suscitados neste tópico.
A nação em chuteiras: raça e masculinidade no futebol brasileiro, de Marcos Alves de Souza.
Futebol nos anos 1930 e 1940: construindo a identidade nacional, de Plínio José Labriola de Campos Negreiros.
Pelos campos da nação: um goal-keeper nos primeiros anos do futebol brasileiro, de Leonardo Affonso de Miranda Pereira.
Copa do Mundo de 1938: o Futebol construindo a "nação", de Felipe Morelli Machado.
Pensando na historicidade desse esporte, é importante ponderar que o futebol se constituiu como uma prática esportiva que privilegiava os praticantes homens. A negação das mulheres no espaço esportivo do universo do futebol era justificada pela suposta fragilidade feminina, e até a ciência prestou-se a explicar o afastamento delas dos campos. No entanto, também o esporte se construiu a partir de pequenas subversões cotidianas das mulheres. A partir dessa reflexão convidamos você a ler o texto Futebol é "coisa para macho"? Pequeno esboço para uma história das mulheres no país do futebol, que narra uma parte dessa história das mulheres no futebol. Para além do futebol, e pensando também que os esportes podem construir e/ou reforçar os estereótipos de gênero, propomos a leitura do texto A construção dos corpos no esporte, que desenvolve boas reflexões sobre essa questão.
