Até aqui, falamos da cultura digital e destacamos que as mudanças provocadas por ela abrem possibilidades de melhorias nas escolas e no mundo ao mesmo tempo que aprofundam e complexificam o impacto da falta de projetos sociais.
Discutimos também que a tarefa da construção desses projetos é de todos(as) – pessoas, instituições, comunidades – e precisa ser realizada de modo crítico, ou seja, é necessário que ela esteja assentada numa consciência capaz de objetivar e desvelar os limites históricos e culturais que cerceiam o cotidiano de nossas escolas.
Mencionamos ainda a preocupação de pais e professores diante do convívio dos(as) jovens com as mídias digitais e o fato de criarmos um imaginário muito negativo sobre esse contato, sendo que pesquisas demonstram que essas relações não são tão perigosas quanto se pensa, ao contrário, às vezes, chegam a ser benéficas.
Neste tópico, queremos convidá-lo(a) para refletir sobre essas questões de outro viés: a partir dos processos de construção da identidade, em especial de crianças e jovens em tempos digitais. Para isso, contaremos com as discussões trazidas por alguns(mas) autores(as) para repensarmos o papel da escola nessa configuração de identidades. Buscaremos encontrar saídas para os desafios enfrentados pela escola.
Orofino (2005) acredita que a escola é um lugar privilegiado para a construção das identidades juvenis, pois ela é o local de encontro de muitos sistemas simbólicos, de “[...] muitas culturas, seja aquela de bagagem pessoal e da identidade dos diferentes alunos, alunas e professores, seja a cultura erudita que ali é ensinada, ou, ainda, a cultura popular regional do local onde a escola está situada.” (OROFINO, 2005. p. 40).
Martins e Carrano (2011) também consideram a escola como um lugar de grande importância para a construção das identidades. Eles alertam-nos que hoje temos muito mais espaço e liberdade de escolhas para a construção delas, por isso “[...] uma das mais importantes tarefas das instituições, hoje, seria a de contribuir para que os jovens pudessem realizar escolhas conscientes sobre suas trajetórias pessoais e constituir os seus próprios acervos de valores e conhecimentos que já não mais são impostos como heranças familiares ou institucionais. O peso da tradição encontra-se diluído e os caminhos a seguir são mais incertos. Os jovens fazem seus trânsitos para a vida adulta no contexto de sociedades produtoras de riscos – muitos deles experimentados de forma inédita, tal como o da ameaça ambiental e do tráfico de drogas –, mas também experimentam processos societários com maiores campos de possibilidades para a realização de apostas diante do futuro. A escola, em especial a de Ensino Médio, constitui-se em instituição privilegiada de promoção de suportes para que os jovens elaborem seus projetos pessoais e profissionais para a vida adulta." (MARTINS; CARRANO, 2011, p. 44).