Quando nos referimos ao tempo, estamos lidando com uma ideia comum; todavia, mesmo sendo comum a todos, cada sociedade lida com o tempo à sua maneira, a partir de suas próprias referências. Além disso, à medida que uma sociedade passa por diferentes estágios de desenvolvimento, ela também vivencia diferentes estágios de utilização do tempo.
“Ao contrário da história positivista dos grandes personagens, dos grandes acontecimentos que tem um significado sólido, independente de interpretações, ou seja, das categorias imutáveis e irreversíveis, uma outra perspectiva historiográfica perceberá que a interpretação do passado é determinada pelas questões levantadas no presente, não há nada de imóvel e absoluto no passado mas há as infinitas possibilidades de compreensão a partir das infinitas possibilidades de perspectivas. A história não é universal, um acontecimento não é experimentado e compreendido por todos da mesma forma, ele será sempre passível de novas interpretações e refutações. Com o tempo, ocorre a mesma coisa. Antes de tudo, o tempo é coisa humana, é coisa social, ele pode ser uma linha progressiva em um grupo e um círculo desconexo em outro.” (SILVA, 2010, p. 174)
"[...] é necessário pensar em um princípio básico: o homem é, por natureza, um ser sociável. A organização do homem em grupos sociais, desde os níveis mais simples aos mais complexos exige padrões que sejam aplicados à totalidade do grupo para que ele funcione devidamente. O tempo cumpre justamente essa função, a de ordenação. Ele é uma instituição social aprendida por cada um dos indivíduos em seu processo de desenvolvimento e racionalização. Quanto mais jovem uma criança é, menos noção de tempo ela terá, ao crescer ela vai se familiarizando com o tempo, distinguindo a posição ordenada das coisas, o que aconteceu ontem, acontece agora e acontecerá depois. Isso é condição imprescindível para a inserção dessa criança nos meios sociais.” (SILVA, 2010, p. 175).
A compreensão do tempo como construção social e humana que deve ser aprendida e interiorizada nos permite assumir uma nova relação com ele, repensando o seu papel tanto na escola quanto na nossa vida. Se pensarmos que não existe uma entidade tempo, que ele é somente um instrumento de organização criado e praticado socialmente, tendo características específicas em cada cultura, então está em nossas mãos o modo como vamos lidar com ele, não é mesmo?
Cada escola tem uma cultura instituída que, embora cambiante, como nas sociedades em geral, tem seu núcleo na organização do tempo e do espaço. Essa cultura da escola é delineada a partir de diferentes aspectos, tais como, o tempo histórico no qual ela se localiza; as políticas públicas de educação nos âmbitos federal, estadual e/ou municipal vigentes; o grupo de pessoas que ali convivem, trazendo seus repertórios, crenças, valores e experiências de vida; a estrutura física; os recursos disponíveis; as características da comunidade que ela atende etc. Nesse sentido, cada escola tem especificidades que são determinantes na escolha dos modos e instrumentos de organização de seus tempos.