Precisamos considerar também que hoje, de um modo geral, em países do Ocidente, vivemos referenciados pela lógica da globalização, organizados em sociedades capitalistas que nos tornam dependentes diretos do tempo. Não fazemos nada sem saber em que data estamos, quantas horas são, quando isso ou aquilo vai acontecer, que prazo temos. Essa dependência do tempo está diretamente relacionada aos modos específicos de produção e de consumo. Não podemos esquecer da seguinte máxima: “tempo é dinheiro”! E, na corrida pelo dinheiro, o tempo torna-se um excelente aliado, não é mesmo?
Nesse cenário da sociedade de consumo, as tecnologias desempenham um papel que vai além do seu simples utilitarismo, trazendo facilidades ou confortos para o nosso dia a dia. Elas também permitem o aumento das produções nas mais diversas áreas, agilizam as comunicações (basta pensar nos recursos da internet) e os transportes (quem imaginaria, há algumas décadas, a popularização do transporte aéreo?), monitoram nossas ações e preferências (câmeras e sistemas inteligentes) primordialmente para nos empurrar o mais rápido possível o que é produzido (ou seja, chegamos ao dinheiro!). Além disso, elas também indiretamente (quem faz isso deliberadamente é o ser humano) modelam, para o bem e para o mal, nossos modos de vida a partir da lógica do mercado (hoje estamos cercados de tecnologias que agilizam nossas tarefas diárias, mas elas também são parte integrante dos estímulos, seja como meio ou como objeto de desejo, que diariamente nos bombardeiam para o consumo desenfreado e o descarte fácil (até de pessoas!), fazendo, assim, girar a grande roda do capitalismo. As tecnologias modelam também nossos tempos e ritmos (hoje precisamos funcionar na velocidade de um clique, custe o que custar!).
Mas qual é a vantagem de pensarmos no tempo como construção social?
Vamos pensar juntos: quando usamos expressões tais como “sou escravo do tempo”, “o tempo voa”, “estamos vivendo em tempos acelerados”, “meu dia precisava ter 48 horas”, “daqui a pouco já é Natal”, estamos pondo em ação uma ideia muito arraigada de tempo que o assume como algo que tenha existência própria, que seja exterior a nós e independente de nossa experiência. E, se continuamos a pensar desse modo, podemos mais facilmente nos sentir vítimas dele, quando na verdade somos coletivamente seus criadores. Se pudermos considerá-lo como uma construção social, buscaremos a compreensão das raízes de suas características na nossa realidade e conseguiremos administrar com mais eficiência suas potencialidades e desafios no nosso cotidiano e na nossa vida, não é mesmo?
Aí você pode parar um pouco para pensar...
Como estamos lidando com os tempos na nossa escola? Acreditamos sermos reféns dele ou o assumimos como seus construtores? Administramos o tempo com eficiência ou somos facilmente engolidos por ele? Como temos organizados os tempos de reunião, de planejamento, de sala de aula, de comunicação com as famílias etc?
Sabemos que administrar os tempos individuais e coletivos em uma escola não é uma tarefa simples, porque simplesmente não é possível prever todos os acontecimentos de um dia. Um acidente, um conflito, uma falta de professor, uma nova demanda da Secretaria de Educação repercutem diretamente nessa organização. Por isso, a gestão de tempo na escola é um assunto muito valioso que merece nossa reflexão.