Ir para página anterior Ir para próxima página

Ícone
Tópico III – O Olhar dos(as) Alunos(as) para seu próprio Cotidiano

Para Finalizar

Ao propor esta atividade de pesquisa, o(a) professor(a) tem a chance de romper com uma prática tradicional de sala de aula, possibilitando que o(a) aluno(a) perceba o movimento cotidiano da vida e reconheça a dinâmica com que as coisas ocorrem na sociedade. A captura de imagens de diferentes conceitos da Geografia tem um potencial educativo muito forte, pois traz a possibilidade de materializar um conceito teórico, muitas vezes visto somente a partir da leitura do livro didático. A possibilidade de o(a) estudante ir a campo para fotografar ou filmar revela uma interlocução com o objeto a ser estudado.

 

 

De acordo com Yi-Fu Tuan (1979, p. 413), uma aula de Geografia sem imagens corresponderia a "uma aula de anatomia sem esqueleto”, pois o geógrafo “depende mais da câmera do que outros cientistas sociais” para apresentar o mundo aos(às) alunos(as).

 

A incorporação de tecnologias visuais nas aulas de Geografia dinamiza a aprendizagem dos conteúdos e desperta a curiosidade para o mundo fora da escola, enquanto possibilita que os(as) estudantes adquiram progressivamente um olhar indagador sobre o mundo de que fazem parte. Eles(as) passam a fazer leituras do mundo e da vida reconhecendo a diversidade de ambientes, habitações, modos de vida, formas de organização de trabalho, e podem compreender seu próprio espaço de modo mais crítico, com visões de mundo ampliadas e com mais consciência da realidade que os(as) circunda.

Se pretendemos que as aulas de Geografia sejam espaços nos quais as crianças aprendam a refletir, a dominar instrumentos tecnológicos, a exercitar o pensamento crítico para a leitura do mundo, precisamos descobrir formas de articular os conteúdos com a vida. Portanto, o desafio é fazer do estudo de Geografia algo que possa contribuir para o planejamento dos espaços em que vivemos e para a reflexão sobre eles, com propostas metodológicas que proporcionem tanto questionamentos sobre a realidade quanto o desenvolvimento de pensamentos críticos e autônomos.

 

 

 

Freire questiona: “como ensinar, como formar sem estar aberto ao contexto geográfico, social, dos educandos?” (1996, p. 30).

 

A crescente sofisticação das tecnologias de informação e comunicação sob a influência das epistemologias “pós” (pós-estruturalismo, pós-modernismo, pós-colonialismo etc.) estimulou um forte interesse na cultura visual em geral e na leitura de imagens em particular. Entretanto, a dimensão espacial dessas representações materiais, por meio de fotos, gráficos, mapas, filmes ou pinturas, ainda é um aspecto pouco explorado nas pesquisas (SEEMANN, 2009).

Não pretendemos questionar se uma imagem fotográfica representa ou não a realidade, pois existem muitas controvérsias a respeito; queremos, sim, pensar como a fotografia pode ser um elemento de intervenção nos estudos geográficos e como cada indivíduo se apropria dos elementos de seu cotidiano ao analisar uma imagem dessas. Esse reconhecimento é nosso objetivo de estudo. A produção de uma imagem fotográfica sequencial para a aula de Geografia pressupõe uma leitura de um espaço geográfico com conhecimentos prévios a propósito dele.

 

 

 

Confiamos que o método de foto-sequência pode levar o(a) estudante a conceber novas linguagens ao estudar Geografia, pois, ao desenvolver sua autonomia confeccionando sua própria sequência, ele(a) estará exercitando novas interpretações sobre seu espaço geográfico.

Entre os potenciais efeitos que podemos citar sobre o trabalho com imagens sequenciais, está a relação que o(a) estudante pode fazer entre o visual e seus conhecimentos geográficos, e também a representação de si no espaço cotidiano, abordando temáticas de distintas ordens, do local ao global.

“A fotografia implica, de nossa parte, um conhecimento e uma aceitação do mundo tal como a câmara registra. O que, porém, é o contrário do entendimento que já começa por não aceitar o mundo tal como ele é.” (SONTAG, 1981, p. 22).

 

Assim, a fotografia, conforme sugerida aqui, possui um caráter de contribuição à educação e à compreensão do espaço geográfico, possibilitando a investigação de um determinado instante.

No ensino, costumamos não dar vez para as potencialidades das imagens, tampouco para as produções dos(as) estudantes. Por exemplo, numa aula de Geografia, quando um(a) aluno(a) vê repetidamente fotografias de poluição ambiental, como de rios sujos, ao tentar trabalhar com imagens, seu foco provavelmente será rios sujos, mesmo que no lugar onde ele(a) viva não exista rio algum. Nesse caso, onde está a pureza da percepção local? Onde os(as) estudantes representam seu cotidiano? Cadê seu próprio cenário? 

Podemos tomar como referência o comentário de Susan Sontag sobre a pureza, ou melhor, a credibilidade de uma fotografia, para refletirmos sobre como as fotografias ainda ganham status de verdade.

 

“O fato de uma fotografia ser louvada por sua pureza e honestidade indica que quase toda fotografia, certamente, não é pura.” (SONTAG, 1981, p. 84).

 

Tentamos propor um diálogo sobre os processos de ensino e aprendizagem com novas didáticas voltadas para o saber geográfico. Relatar experiências e demonstrar como a prática do ensino de Geografia pode ser permeada por novas formas ou recursos tecnológicos são atitudes que podem nos auxiliar a minimizar a exclusão que ocorre pela falta de acesso ao conhecimento.

 

Continuaremos!

 


Ir para página anterior Ir para próxima página