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Tópico III - Sociologia e TDIC em Sala de Aula

Caro professor, cara professora, desde que a LDB nº 9.394/96 foi sancionada, é possível identificarmos um intenso debate reunindo diversos atores sociais ligados à Educação, no sentido de se “reinventar” os espaços escolares. As atuais Diretrizes Curriculares do Ensino Médio / DCNEM (BRASIL, 2012), reforçam essa ideia ao destacar o protagonismo dos(as) jovens estudantes como sujeitos do processo educativo. Frequentemente nós, profissionais da educação, somos chamados a “reinventar” a escola junto com nossos(as) estudantes, ao mesmo tempo em que buscamos garantir-lhes o direito à aprendizagem e ao desenvolvimento, por meio de sua formação ética, do desenvolvimento de sua autonomia intelectual e do seu pensamento crítico.

Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se, em várias ocasiões, não estabelecemos diálogos abertos e democráticos com os sujeitos desse processo? Todos nós vivenciamos a experiência de uma realidade, sobretudo da escola pública, que muitas vezes desencoraja iniciativas inovadoras. Contudo, mesmo nessas condições tem havido, recentemente, iniciativas que procuram construir formas criativas de ensinar e educar, motivadas por uma atitude de aprendizagem mútua e de experimentação de novas abordagens. O próprio Curso de Especialização em Educação na Cultura Digital, inserido no âmbito do Programa Nacional de Tecnologia Educacional – PROINFO, ao buscar “oportunizar o acesso e promover o uso pedagógico das tecnologias digitais de informação e comunicação” (RAMOS et al., 2013), tem se empenhado em garantir condições para que os educadores e educadoras inovem em seus métodos de ensino e aprendizagem.

A clareza quanto a ideia de que a “Cultura Digital tem um enorme potencial para gestar uma nação mais democrática e justa”, e que o sucesso desta depende de uma “apropriação consciente e crítica dessa cultura e de seus recursos” (RAMOS et al., 2013, p. 7), foi o que nos motivou a reunir, nos dois tópicos que vimos até então, referências, sugestões de atividades, ferramentas digitais, bem como diversos conteúdos disponíveis nos meios digitais que, articulados a partir de um conjunto de perspectivas sociológicas, estimulassem vocês, professores e professoras, a uma aventura no campo das Ciências Sociais como forma de construirmos novos conhecimentos acerca de nossa própria realidade.

O desafio de “reinventarmos” a escola na companhia dos nossos(as) jovens estudantes requer de nós, educadores, enfrentar algumas questões fundamentais, começando por algumas perguntas: Podemos afirmar que, efetivamente, conhecemos nossos alunos e alunas? Quando e onde eles nasceram? Com quem vivem? Como gostariam de viver? Que valor atribuem à família e aos amigos? Como eles lêem o mundo? O que eles esperam dos estudos escolares?

A “aventura sociológica” contida nestas perguntas iniciais fica ainda mais evidente quando nos propomos a conhecer, através do universo sociocultural das juventudes no Brasil, seus estilos de vida, suas formas de socialização, suas identidades. Podemos ampliar a pergunta para o próprio uso que os estudantes fazem das tecnologias digitais, sobretudo as tecnologias móveis presentes nos celulares e smartphones, tão disseminadas hoje em dia e, em muitos aspectos, fonte de desencontros, desatenção, recriminações e rejeições. A atitude oposta à rejeição consistiria, por exemplo, no estímulo dos(as) professores(as) aos seus estudantes, orientando-os sobre como e onde acessar informações, como analisá-las criticamente e utilizá-las em sala de aula, enfim, como pesquisarem sobre suas próprias realidades por meio dessa cultura digital.

 

Ao enfatizar a pesquisa como princípio pedagógico, as atuais DCNEM entendem que uma de suas premissas é que nós, educadores (as), estejamos empenhados na escolha de estratégias de aprendizado e organização das aulas, focando sobretudo, a forma como os(as) nossos(as) estudantes aprendem. Nesse sentido, “planejar estratégias de investigação e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensão do ensino para abranger a aprendizagem significativa, duradoura e transformadora. Essas atividades desafiam nossos(as) estudantes na busca de respostas para questões que, provavelmente, ainda não foram realizadas. Os(as) estudantes passam a ser ativos na construção do seu próprio conhecimento”. (BRASIL, 2014, p. 29).

Nesse sentido, a busca de uma nova relação com o saber, o conhecimento e o ensino-aprendizagem, busca esta permeada pela cultura digital, pode ser feita mediante algumas reflexões de caráter sociológico. Nosso objetivo aqui não é, evidentemente, estabelecer uma ampla discussão teórica sobre o assunto, mas apresentar alguns autores e autoras de diferentes perspectivas, na expectativa de oferecer  referências iniciais.

Como vimos no primeiro tópico do nosso curso, em alguma medida estamos sempre fazendo uma “sociologia do conhecimento” quando refletirmos sobre os alcances, as potencialidades e os usos que fazemos, por exemplo, das tecnologias de informação e comunicação. Sobretudo na contemporaneidade, intrinsecamente afetada por profundas transformações, por um fluxo cada vez maior e veloz de informações, a pergunta sobre “o que é e como produzimos conhecimento?” torna-se cada vez mais pertinente.

O historiador contemporâneo Peter Burke, ao se questionar “por quais caminhos chegamos ao nosso estado atual de conhecimento coletivo?”, chega a algumas respostas. Dentre elas está a coexistência e a interação de correntes em direções opostas, numa espécie de equilíbrio de antagonismos em que se destaca o processo ininterrupto de “tecnologização”.

 


“A nacionalização do conhecimento coexiste com sua internacionalização; a secularização, com a contrassecularização; a profissionalização, com a amadorização; a padronização, com a personalização; a especialização, com projetos interdisciplinares; a democratização, com movimentos contrários ou restritivos a ela. Mesmo a acumulação de conhecimento é, em certa medida, contrabalançada por perdas. Apenas a tecnologização parece avançar sem encontrar maiores obstáculos. (BURKE, 2003. p. 10)


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