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Conceitual I - A Educação Física como Componente Curricular

Pensando as Abordagens

Cursista, nossa área/campo de conhecimento vem experimentando muitos avanços e ampla diversificação teórico-conceitual, fruto do desenvolvimento acadêmico sobretudo no âmbito da Pós-graduação (strictu senso). Novas linhas de pesquisa, em interface com disciplinas científicas das humanidades e das ciências da natureza, amplificaram e melhor delimitaram o empreendimento acadêmico da Educação Física. Duas dimensões do mesmo fenômeno, o movimento humano e o “se-movimentar” (TREBELS, 2006), têm sido tomadas como objeto de investigação na área/campo; aquele como um fato biodinâmico (e, assim, analisado pela biomecânica e pela fisiologia do exercício, por exemplo), e este último como linguagem que expressa intencionalidades e constrói/compartilha significados sociais (objeto, portanto, de abordagens fenomenológicas, sociológicas ou antropológicas). Tudo isso sob o mesmo teto, o da Educação Física, configurando assim as muitas “Educações Físicas”, como asseveram certos autores e autoras da área.

Apesar disso, a Educação Física parece ainda não ter conseguido promover mudanças significativas em suas práticas pedagógicas na escola. Para Gonzáles e Fensterseifer (2009; 2010), estaríamos entre o “não mais” e o “ainda não”, expressões com as quais se exprime o entendimento de que a comunidade da área já possui uma razoável compreensão do que não faz mais sentido na Educação Física escolar. No entanto, essa comunidade ainda não conseguiu construir alternativas relativamente consolidadas na forma de novos fazeres pedagógicos.

Não se trata, é claro, de reinventar objetos para pensar novas pedagogias a partir deles, mas de compreender que as relações entre os nossos objetos de estudo/intervenção e a dinâmica social é que têm mudado. As práticas de movimento humano, historicamente produzidas e socialmente compartilhadas, constituem-se em uma dada dimensão da cultura (que aqui denominamos cultura de movimento), cujas manifestações mais conhecidas na sociedade contemporânea são: esporte, ginástica, jogos, lutas e danças.

A sua tematização, isto é, a produção de conhecimentos sistematizados sobre essas práticas corporais características da cultura de movimento, configura-se como o objeto de estudo da área/campo que reconhecemos como Educação Física. Vale destacar que as manifestações apresentadas aqui não são educativas por si próprias, porque, numa perspectiva histórica e dialética, elas são resultantes de diferentes processos que as instituíram como práticas sociais, com suas respectivas e múltiplas significações e contradições.

Portanto, sua inserção no currículo escolar implica reconhecermos a escola como uma instituição social republicana que tem, sobretudo, propósitos educativos teleológicos, isto é, objetiva a seus alunos e a suas alunas uma formação cultural que ultrapassa o espaço escolar. Por isso, a formação dos(as) nossos(as) alunos(as) deve capacitá-los a produzir e a vivenciar suas práticas corporais autonomamente ao longo da vida. Os autores Gonzales e Fensterseifer (2009, p.5) destacam essa relação entre cultura e autonomia:

"Tomando cultura no sentido weberiano, como propõe Geertz, em forma de teia de significados na qual nós nos inserimos tecendo-a, podemos afirmar que a educação, em sentido amplo, nos insere na cultura, potencializando-nos para 'tecê-la'". 

Assim, a integração orgânica da Educação Física à escola como disciplina, tal como preconizada na LDB, requer de nós o exercício de transposição didática dos conhecimentos sistematizados sobre as manifestações da cultura de movimento para a forma de conteúdos didáticos. Embora possam manter as mesmas denominações (esporte, jogos etc.), estes precisam ser submetidos a um trato pedagógico que os constitua em eixos de desenvolvimento de um conhecimento específico no âmbito da escola: o conhecimento “da” Educação Física. Isso dá a dimensão do desafio que nos foi imposto com a elevação da Educação Física à condição de componente curricular na escola:

"Nosso fazer não passava de uma 'atividade' que acontecia no seu interior [da escola], nosso compromisso resumia-se a uma 'atividade' (fazer). Hoje somos desafiados a construir um saber 'com' esse fazer. Mais que isso, pensar um saber que se desenvolve ao longo dos anos escolares em complexidade e criticidade"

(GONZALES; FERNSTERSEIFER, 2010, p.4).


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