Ir para página anterior Ir para próxima página

Ícone
Conceitual I - A Educação Física como Componente Curricular

Produzindo Conhecimento

Cursista, se a característica principal desse conhecimento é o fato de ele ser construído predominantemente pelo fazer, isto é, na e pela prática (embora não se reduza a ela), a especificidade do conhecimento da Educação Física escolar precisa atender a uma intenção triádica, que é a de ser, ao mesmo tempo, um “saber fazer”, um “saber sobre o fazer” e um “saber por que fazer”.

 

1. Saber fazer

"Saber fazer" é uma definição sobre as muitas possibilidades de aprendizagem e aquisição de habilidades corporais. Essas habilidades são decorrentes de experiências relacionadas às manifestações da cultura de movimento (pedagogicamente tratadas no âmbito da Educação Física escolar). Essa conceituação corresponderia, na perspectiva de categorias educacionais proposta por Kunz (1994), ao desenvolvimento de uma competência técnica objetiva a respeito das práticas corporais sobre esporte, lutas, danças, etc. Portanto, quanto mais essas experiências forem diversificadas e organizadas em níveis de complexidade crescente, mais amplas e significativas serão as aprendizagens. Isso implica o reconhecimento da necessidade de se estabelecer um programa de ensino que visualize e organize ações didáticas da Educação Física ao longo da educação básica (infantil, fundamental, médio, técnico, tecnológico, EJA).

2. Saber sobre o fazer

O "saber sobre o fazer" constitui-se como o conjunto de conhecimentos que são desenvolvidos através da mediação pedagógica proporcionada pelo(a) professor(a): os saberes das experiências, as formas sistematizadas das manifestações da cultura de movimento e os aportes teóricos advindos das diversas disciplinas científicas que perpassam e impactam a cultura de movimento. Nesse sentido, configuram-se situações e arranjos didáticos orientados pelo(a) professor(a). O objetivo é proporcionar aos(às) estudantes, a partir da vivência das práticas corporais, uma apropriação de conhecimentos como: sistemas táticos do esporte, contextos sociais que regulam as práticas corporais, aspectos relacionados a noções de saúde e de lazer etc. Considerando a responsabilidade da escola pela produção e transmissão de conhecimentos científicos, a dimensão do "saber sobre o fazer" corresponderia àqueles conhecimentos que, no âmbito escolar, são de responsabilidade específica e única da Educação Física. Esses conhecimentos tornam a escola diferente de outros espaços de práticas corporais, como escolinhas esportivas, academias, clubes etc. Dito de outro modo, seriam aqueles conhecimentos que, oriundos das práticas corporais, vão para além delas e de que somente na Educação Física escolar os(as) alunos(as) têm a oportunidade de se apropriarem. (GONZALES; FENSTERSEIFER, 2010).

3. Saber por que fazer

A última dimensão da tríade da Educação Física escolar refere-se ao "saber por que fazer".  Essa última característica do nosso fazer pedagógico específico visa promover o desenvolvimento de atitudes favoráveis à vivência de práticas corporais por parte dos(as) estudantes, de forma permanente e autônoma ao longo da vida. Trata-se da associação da Educação Física com a perspectiva teleológica da educação escolar, ou seja, com aquilo que fica para o(a) aluno(a) da Educação Física escolar depois de sua experiência na escola. Ela também envolve as noções advindas das experiências de práticas corporais (o "saber fazer") e os conhecimentos científicos produzidos ou apropriados pela reflexão teórico-conceitual sobre elas ("saber sobre o fazer"). Entretanto, ela segue além de ambos, pois inscreve-se na cultura de movimento como um diferencial aprendido e incorporado pelos(as) alunos(as) para a sua vida adulta. Entre outros aspectos, diz respeito:

  1. ao entendimento dos benefícios das práticas corporais para a promoção da saúde;

  2. à importância de se apropriar do lazer como um ganho de qualidade em sua cidadania emancipada;

  3. à capacidade de agir com respeito a princípios éticos em situações de disputa, como as esportivas;

  4. ao desenvolvimento de atitudes abertas a experiências estéticas, proporcionadas, por exemplo, no e pelo esporte (FENSTERSEIFER, 2012).

 

Por fim, cabe mais um destaque a respeito da contextualização da Educação Física escolar na contemporaneidade. À tríade de compromissos teórico-metodológicos, acrescenta-se nossa responsabilidade pedagógica visando estabelecer a transição da Educação Física na escola da condição de atividade à de componente curricular. É preciso reconhecer que, atualmente, as representações sociais referentes às práticas corporais das quais se ocupa a Educação Física são, em grande parte, produzidas e compartilhadas no espaço-tempo social em que se configura uma cultura digital (PIRES; LAZZAROTTI FILHO; LISBOA, 2012).

Os saberes e fazeres que caracterizam a Educação Física são, cada vez mais, atravessados por novas experiências e por múltiplos letramentos possíveis. Isso se dá através de alguns elementos, como as mídias tradicionais de massa da sociedade multitela – televisão, portais e displays etc. –, e também as vivências digitais complementares às práticas corporais típicas da cultura de movimento, sobretudo os games. Como sabemos, esses elementos são oportunizados pelas novas tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC).

Diante disso, desenvolver competências que possibilitem aos(as) estudantes a interação com as linguagens e os modos de produção das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) pode se constituir em mais um objetivo da Educação Física escolar. Não como substituição, mas como complemento das aprendizagens possíveis sobre e com práticas corporais no âmbito da cultura digital. Para tanto, e de forma interdisciplinar com os demais componentes curriculares, o caminho teórico-metodológico sugerido é o da mídia-educação, nos seus diversos contextos e dimensões, como veremos no nosso Conceitual 2.


Ir para página anterior Ir para próxima página