Cursista, como vimos, as mídias – tanto as tradicionais quanto as digitais, mesmo em uma perspectiva de convergência – constituem-se como objetos sociais capazes de se promoverem como um importante lugar para o estabelecimento de relações entre as pessoas de uma dada comunidade. Para entendermos melhor essa questão, propomos imaginar a seguinte situação (nem tão hipotética): se um(a) atleta posta no Youtube um clipe de uma performance esportiva, como um belo gol registrado dos mais variados ângulos, ele(a) tem a possibilidade de mobilizar diversas manifestações digitais.
Compartilhamentos, comentários, remixes são algumas das possibilidades de apropriação e distribuição. Mas, para além das possibilidades de assimilação, também está em jogo a intenção do(a) jogador(a). Com o vídeo, o(a) atleta promove suas qualidades, oportuniza a proliferação das imagens pelos(as) admiradores(as) e, assim, aumenta a sua popularidade, usando para isso a internet e as afinidades que seus fãs ali estabelecem.
Em um país como o Brasil, em que o esporte se constitui como um campo social e cultural, a mídia-educação surge como a oportunidade para crianças, jovens e professores(as) indagarem sobre os produtos midiáticos e refletirem sobre a representação e a construção social das práticas esportivas. Além disso, podem ter a oportunidade de refletir suas vivências corporais e o lugar da Educação Física como um importante espaço para a realização de atividades que se pautem em uma perspectiva mídia-educativa.
Ao ponderar as possibilidades e as escolhas que o(a) professor(a) pode mobilizar para intervir educativamente na relação entre os(as) alunos(as) e as mídias – sobretudo em um contexto convergente das mídias digitais –, deve-se promover, primeiramente, o deslocamento das mídias para fora do centro da ação educativa (media centred).
O objetivo é adotar um ponto de vista no qual a educação seja o centro da proposta pedagógica (education centred), e não as mídias (RIVOLTELLA, 2009). Dessa forma, atividades lúdicas, corporais, esportivas e de lazer podem fazer uso das mídias ou ser realizadas em articulação com elas, e não a partir delas.
Assim, as mídias devem ser tomadas como componentes da cultura, por meio dos quais será possível propor intervenções educativas transformadoras (FANTIN; GIRARDELLO, 2009). Essas possibilidades acontecem quando pensamos essas mídias a partir de sua dimensão crítica, das suas possibilidades para a criação, para a participação e, também, como espaço para a cidadania que perpassa, como não poderia deixar de ser, as práticas e as vivências corporais cotidianas.
RIVOLTELLA, P. C. Mídia-educação e pesquisa educativa. Revista Perspectiva, Florianópolis, v. 27, n. 1, 119-140, jan./jun. 2009.
FANTIN, M.; GIRARDELLO, G. Diante do abismo digital: mídia-educação e mediações culturais. Revista Perspectiva, Florianópolis, v. 27, n. 1, p. 69-96, jan./jun. 2009.
A mídia-educação pode ser tomada por dois vieses que se complementam: como área de saber e como campo para a intervenção em diversos contextos; ou seja, “como práxis educativa, como campo metodológico e de intervenção didática, e como instância de reflexão teórica sobre essa práxis” (FANTIN, 2011).
Na área da Educação Física, existem diversas pesquisas que tematizam a mídia-educação nos mais variados âmbitos, isto é, na leitura crítica de conteúdos midiáticos, no uso das mídias nessa disciplina ou na proposição da construção de produtos midiáticos que tematizam o esporte e as práticas corporais.
Grupos de pesquisas são uma importante fonte para o contato com pesquisas que tematizam a relação das mídias com a Educação Física, além de serem uma rica fonte para a inspiração pedagógica. Nesse sentido, para conhecermos alguns desses grupos, propomos uma rápida atividade de pesquisa. Observe os passos sugeridos a seguir.
Entre no site do Labomídia e busque grupos de pesquisa cujos trabalhos tematizem as mídias na Educação Física.
Agora, você pode escolher três desses grupos, ler o resumo de algumas pesquisas e definir as abordagens propostas, de acordo com as três dimensões da mídia-educação já apresentadas: a) práxis educativa; b) metodologia e intervenção didática; c) instância de reflexão teórica sobre essa práxis.
Feito isso, procure refletir se é possível que uma pesquisa abranja mais do que uma dimensão. Aproveite para pensar sobre o que você conseguiu perceber a partir dos exemplos observados.
O resultado de sua pesquisa e as reflexões suscitadas poderão ser publicados no espaço indicado pelo(a) professor(a).
Trecho retirado da entrevista realizada com a professora Doutora Monica Fantin, na Revistapontocom.
