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Tópico III - Corpo, Saúde e Estética

Pensando a Juventude

Cursista, antes de continuarmos pensando o corpo no âmbito das culturas juvenis, parece importante esclarecer o que falamos quando nos referimos à juventude como uma questão sociológica, portanto, tema da escola.

O sociólogo português José Machado Pais é um dos intelectuais cujas pesquisas têm servido de referência para a compreensão das culturas juvenis. Boa parte de suas críticas são dirigidas a correntes do pensamento sociológico que tentam reduzir a complexidade dessa realidade através de categorias totalizantes, ou seja, que não dão conta de pensar as diferentes variações existentes entre os(as) jovens e suas vivências.

Entre outras limitações apontadas por ele, está a dicotomia entre duas fortes tendências que pensaram a conceituação de juventude. A primeira, denominada corrente geracional, considera a juventude apenas a partir de uma questão etária, ou seja, de transição entre outras etapas da vida, pressupondo uma certa unidade no universo juvenil. Contrariamente a essa compreensão, a outra corrente, denominada classista, pressupõe a heterogeneidade da categoria juventude, mas é marcada por uma perspectiva rígida e reproduz a separação baseada na distinção de classes sociais. Tal concepção entende que as diversidades juvenis aconteceriam apenas no âmbito interclasses.

 

 

O olhar sociológico para a juventude na perspectiva da corrente geracional é compreensivo, por entender que os(as) jovens fazem coisas que são típicas de uma fase da vida. Já a tendência classista vê a juventude com temor, por recear sua ideologização como uma cultura desviante ou contracultura, isto é, como uma resistência às estruturas sociais. Comportamentos de jovens como a rebeldia ou mesmo a delinquência demonstrariam a incapacidade desses(as) jovens de se adequarem às normas sociais vigentes ou às culturas dominantes, o que, por sua vez,  justificaria a intervenção dos aparelhos de controle a serviço destas.

Em ambas as correntes, a ideia de uma juventude ativa, produtora de culturas próprias, capaz de ressignificar tanto os rótulos atribuídos à faixa etária quanto às pseudodeterminações sociais, é desconsiderada por visões globalizantes que preferem compreender os(as) jovens através do que os pode igualar e não por tudo que os faz diferentes

Machado Pais afirma que os argumentos totalizantes das duas correntes, ainda que demarquem alguns aspectos comuns dos(as) jovens, são frágeis na medida em que determinam a impossibilidade de a juventude produzir sua própria cultura – ou culturas, no plural –, com um sistema próprio e dinâmico de (re)construção de significados; e tampouco admitem aquilo que ele denomina de juvenilização, isto é, a capacidade de as culturas juvenis também impactarem a sociedade. Esse impacto poderia acontecer tanto no aspecto etário – como a progressiva ampliação da faixa etária considerada jovem – quanto no social – considerando a importância social e econômica dos(as) jovens. A recusa em admitir esse processo, no entanto, não impede que ele seja percebido e constantemente apropriado pelo mercado.


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