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Tópico I – Escola e Cultura Digital: Admirações

Redes de cidadania: por uma outra globalização

“É preciso perceber as qualidades, habilidades, sensibilidades e múltiplas experiências que as novas gerações estão vivenciando nas interações que estabelecem nos ambientes digitais.” (ARRIADA; RAMOS, 2013, p. 49).

E por que isso é tão importante?

A escola precisa preparar os(as) futuros(as) cidadãos(ãs) para pensar o mundo, que se torna mais complexo a cada dia e se unifica em virtude das tecnologias que nos dão “bases sólidas para uma ação humana mundializada. Esta, entretanto, impõe-se à maior parte da humanidade como uma globalização perversa.” (SANTOS, 2010, p. 37).

 

 

Milton Santos, em seu livro Por uma outra globalização (2010), considera que a tirania do dinheiro e da informação são fatores que geram crise e perversidade no processo de globalização que vivemos hoje. 


“Na verdade, a perversidade deixa de se manifestar por fatos isolados, atribuídos a distorções da personalidade, para se estabelecer como um sistema. Ao nosso ver, a causa essencial da perversidade sistêmica é a instituição […] da competitividade como regra absoluta […]. O outro, seja ele empresa, instituição ou indivíduo, aparece como um obstáculo à realização dos fins de cada um e deve ser removido [...]. Junte-se a isso o processo de conformação da opinião pelas mídias, um dado importante no movimento de alienação trazido com a substituição do debate civilizatório pelo discurso único do mercado. Daí o ensinamento e o aprendizado de comportamentos dos quais estão ausentes objetivos finalísticos e éticos [...]. Para tudo isso, também contribui o estabelecimento do império do consumo [...]. Os papéis dominantes, legitimados pela ideologia e pela prática da competitividade, são a mentira, com o nome de segredo da marca; o engodo, com o nome de marketing; a dissimulação e o cinismo, com os nomes de tática e estratégia. E uma situação na qual se produz a glorificação da esperteza, negando a sinceridade, e a glorificação da avareza, negando a generosidade. Desse modo, o caminho fica aberto ao abandono das solidariedades e ao fim da ética, mas, também, da política.” (SANTOS, 2010, p. 60-61).

 

A perversidade, então, passa a ser uma das características estratégicas das instituições em geral? Vejamos exemplos de como ela repercute em nosso dia a dia.

 

 

EXEMPLO 1

Três jovens blogueiros viajaram ao Camboja, fizeram uma reportagem sobre o que lá conheceram e sobre as condições de trabalho de operários(as) da indústria da moda. Os(as) blogueiros(as) expressaram tristeza e indignação diante das características precárias e desumanas que esses(as) trabalhadores(as) enfrentam: das dificuldades de sobrevivência e da repressão a que são submetidos(as) quando tentam se rebelar. Enquanto isso, as peças de roupas produzidas por eles(as) são vendidas por grandes marcas europeias a preços baixos, o que é possível porque eles(as) recebem muito pouco por sua produção, trabalhando, muitas vezes, com fome e até a exaustão.

 

 

 

EXEMPLO 2

O ostracismo dos idosos na Dinamarca, um dos países mais ricos do mundo, é registrado pelo escritor Knud Romer, que fala sobre a morte de seu pai no documentário Uma folha cai ao Céu [2013?], produzido por Didde Elnif e Anders Birch. Na entrevista mostrada no vídeo a seguir, Knud fala sobre o filme e faz uma crítica emocionada sobre a tal perversidade do sistema. Infelizmente, a entrevista é “perversamente” finalizada em virtude do término do tempo disponível.

 

No próximo vídeo, Milton Santos se diz pessimista quanto ao mundo hoje, mas otimista quanto às possibilidades de uma nova globalização ao destacar que os mesmos instrumentos que deram origem à cultura de massas são também fontes de esperança para um futuro melhor. 

Para finalizar nossa conversa sobre o pensamento do professor Santos, destacamos o que ele expressa em A grande mutação contemporânea (2010).

 

“Diante do que é o mundo atual, como disponibilidade e como possibilidade, acreditamos que as condições materiais já estão dadas para que se imponha a desejada grande mutação, mas seu destino vai depender de como disponibilidades e possibilidades serão aproveitadas pela política. [...] A globalização atual não é irreversível. Agora que estamos descobrindo o sentido de nossa presença no planeta, pode-se dizer que uma história universal verdadeiramente humana está, finalmente, começando. A mesma materialidade, atualmente utilizada para construir um mundo confuso e perverso, pode vir a ser uma condição da construção de um mundo mais humano. Basta que se completem as duas grandes mutações ora em gestação: a mutação tecnológica e a mutação filosófica da espécie humana". (SANTOS, 2010).


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