Infelizmente, a difusão do conceito de transmídia tem ficado restrita ao emprego de múltiplas plataformas para dar expressão a mundos estritamente ficcionais ou narrativos. Entretanto, embora o universo ficcional exerça muito apelo junto ao público, a transmídia não se reduz à narrativa e, muito menos, à ficção. Bem antes de a narrativa transmídia ser acolhida com a popularidade de que goza, os artistas já batizavam suas obras de “arte transmídia”, significando com isso o uso de múltiplas linguagens advindas de mídias diversas.
A expansão do conceito de transmídia para além da narrativa também já estava implícita no conceito de remidiação, segundo o qual uma mídia, não exclusivamente a mídia digital, remodela formas midiáticas prévias. O computador, com sua capacidade de remixagem, difundiu essa lógica. Obras e linguagens das mais diversas espécies são remidiadas, isto é, transpostas para outra mídia e, consequentemente, transmutadas.
Outro conceito, similar ao conceito de transmídia, mas não restrito ao aspecto meramente narrativo, é o conceito de tradução intersemiótica. Esta implica a tradução criativa de formas de linguagem, cuja realização exige saber penetrar nas entranhas dos diferentes sistemas de linguagem, buscando minuciosamente iluminar os procedimentos que regem a tradução da literatura para o filme, da pintura para o vídeo, da poesia para a música, desta para a animação computacional etc. Lembrar que qualquer transposição de conteúdo de uma mídia para outra implica competência para manipular linguagens de diferentes tipos e espécies, inclusive suas misturas, nos livra da redução de toda a sutileza envolvida na passagem de uma linguagem a outra a uma simples transposição de mídias. Livra-nos, sobretudo, do esquecimento das linguagens, pois são elas que vivem e vicejam nos interiores das mídias.