Caros e caras cursistas, com base nas considerações anteriores, podemos compreender o termo “juventude” como um problema sociológico. Para começo de conversa, nenhuma noção de juventude pode abranger a heterogeneidade do real. Um caminho é percebermos algumas características universais resultantes das transformações corporais, estéticas e psicológicas de indivíduos(as) de uma determinada faixa etária. Outro caminho, completamente diferente, seria compreender como cada sociedade e, no seu interior, cada grupo social, interpreta e representa essas mesmas transformações, ou, para mobilizarmos o conceito de “socialização”: compreender como cada sociedade, e em cada contexto histórico, se constroem tanto os mecanismos/agências de socialização, como qual o sentido que atribuímos a elas no âmbito das nossas relações sociais.
Assim, considerar a juventude como algo unitário é reduzir o universo quase infinito de possibilidades e experiências a algumas representações generalizadoras. No âmbito da própria sociologia da juventude já existe uma controvérsia a respeito, e que sinteticamente pode ser assim representada: há os(as) que consideram a juventude como um conjunto social caracterizado por indivíduos(as) pertencentes a uma certa “fase da vida” marcada por características mais homogêneas e uniformes, e aqueles(as) que, ao contrário, consideram a juventude como um conjunto social necessariamente diversificado, reunindo diferentes pertenças de classe, situações econômicas, parcelas de poder, interesses e oportunidades ocupacionais. (PAIS, 1990, p. 140); ou seja, enquanto a primeira vertente, classificável como geracional, busca compreender a “cultura juvenil” como resultante de processos de socialização, necessariamente estruturais e homogeneizadores, a segunda vertente, que pode ser classificada como classista, trata a juventude como um conjunto social necessariamente diversificado em razão das origens de classe e condição social. (DAYRELL, 2005, p. 22).
Há também uma terceira possibilidade: a de compreender a juventude a partir da ótica da “diversidade”. Neste caso, significa levar em conta o fato de que há diferentes modos de ser jovem, resultado de circunstâncias como a classe e a origem social, bem como a partir de interações sociais e simbólicas que interferem na trajetória social dos(as) indivíduos(as). Ou seja, experiências distintas são construídas por indivíduos de origens sociais, classes sociais, interações sociais e processos de socialização diversos. (DAYRELL, 2005, p. 27).
Podemos agora voltar à questão inicial deste item e nos perguntarmos: como podemos perceber e problematizar essas construções em torno do tema “juventude”? Não queremos aqui, evidentemente, fazer uma “sociologia da juventude”, mas indicar algumas pistas que contribuam para que nós, professoras e professores de Sociologia, tenhamos uma leitura mais sofisticada de nosso próprio universo social. Para isso, convidamos você, cursista, a produzir uma experiência que estimule a reflexão crítica dos (as) alunos (as) quanto às representações da juventude, e também, que busque fazer com que eles (as) se situem em meio a essas representações. Indicamos alguns passos que poderão viabilizar a atividade.
1 - Procure exibir um vídeo provocador, como por exemplo, o documentário produzido pelo grupo Nahumild Juventude e brasilidade: O que é ser um jovem brasileiro para os(as) alunos(as).
2 - Você pode escolher um jornal de ampla circulação na sua cidade ou estado para que seja analisado pelos(as) estudantes. A nossa sugestão é procurar por aqueles que possuam acesso on-line das edições anteriores. Caso você não encontre, busque acessar aqueles jornais de maior acesso nacional. Ex: “O Estadão” e “Folha de São Paulo”.
3 - Propomos estipular um tempo para a pesquisa dos(as) estudantes. Fica a seu critério o prazo e se a atividade será realizada individualmente ou em grupo.
4 - Após o momento de pesquisa, os (as) estudantes podem fazer um levantamento dos títulos das reportagens e notícias que se referem à juventude e aos (às) jovens em geral. Em seguida, você pode indicar algumas questões que sirvam para a análise dos(as) estudantes posteriormente. Ex.: Como a juventude aparece retratada? Quais os temas centrais a que a juventude aparece relacionada nas páginas desses jornais?
Recomendamos abrir um espaço durante a aula para que essas análises sejam socializadas entre a turma. Procure observar as diferentes reflexões que eles e elas construíram.
5 - Como último passo, sugerimos socializar com os (as) colegas cursistas, no espaço indicado pelo (a) formador(a) do Núcleo, o resultado dessa sua experiência com esta intervenção. Aproveite para visitar as demais postagens dos colegas e para fazer comentários, quando for pertinente.
O objetivo dessa atividade é fazer com que os(as) estudantes possam exercitar uma reflexão sobre como a juventude aparece retratada atualmente e, a partir disso, consigam situar sua própria trajetória nessas ou em outras representações. Esse é um elemento central na construção da atividade e que deve ser provocado durante todo o processo de pesquisa e análise do material. Além disso, será possível refletir como as perspectivas do estranhamento da Sociologia podem favorecer uma reflexão mais profunda sobre o tema, inclusive auxiliando outras disciplinas. Finalmente, reiteramos a importância de se ter em vista que a juventude não é algo unitário, mas passível de inúmeras interpretações. E por isso, finalmente, reafirmamos o valor de ouvir os(as) nossos(as) estudantes!