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Tópico II - Identidades

Movimentos Modernistas, Tropicalismo e outras Manifestações Culturais

Em certa medida, podemos dizer que os movimentos modernistas do século XX, em grande parte estiveram em sintonia com a valorização – e muitas vezes a “descoberta” – da “cultura brasileira”. Na esteira da crítica ao “Romantismo” do século XIX, diversos artistas plásticos, literatos e intelectuais, como Mário de Andrade (1893-1943), Oswald de Andrade (1890-1954), Tarsila do Amaral (1886-1973), entre outros, se propuseram a “dessacralizar”, ou desconstruir, sobretudo, o “olhar estrangeiro” (porque fruto do romantismo europeu) com que se imaginava o Brasil e os brasileiros.

Por exemplo, ao escrever Macunaíma, em 1928, Mário de Andrade retratava o brasileiro como sendo o “herói sem nenhum caráter”, criado a partir da integração entre os mitos indígenas e africanos e a presença do colonizador branco. Na verdade, a ausência de caráter do herói brasileiro indicaria um caráter em formação, expressando a incompletude da cultura brasileira. Enquanto o “índio”, o “mestiço” ou o “sertanejo” eram concebidos como personagens-heróis exclusivamente virtuosos, o “anti-herói” modernista possuía virtudes mas, igualmente, defeitos. Supostamente livre de ideologias, não precisaria se restringir a nenhum modelo preconcebido.

 

 

Também lançado em 1928, o Manifesto Antropogáfico, de Oswald de Andrade, é bastante emblemático deste empenho em “devorar”, cultural e simbolicamente, o “estrangeiro”, bem como suas técnicas e razões, e reelaborar seu legado, agora de forma autônoma e livre da repressão da civilização europeia. Nesse sentido, o antropofagismo foi caracterizado pela assimilação crítica das vanguardas artísticas e da cultura europeias, no sentido de traduzi-las para a realidade brasileira, numa linguagem que a expressasse em seu primitivismo, revelasse sua autenticidade e recuperasse sua essência.  Esses são esforços do modernismo brasileiro em pensar e produzir compreensões sobre uma identidade nacional do Brasil. Para entender um pouco mais essa questão, sugerimos o vídeo "Modernismo Brasileiro". Nele você poderá ter acesso a um panorama geral da história do Modernismo brasileiro, nos ajudando a pensar diferentes elementos que aparecem até hoje como símbolos de uma identidade e/ou essência nacional.

 

História da Arte 15 - Modernismo Brasileiro – Prof. Fulvio Pacheco

Cursista, como pudemos perceber no vídeo, ao longo do século XX, diversos grupos e gerações de artistas e intelectuais protagonizaram diferentes linguagens estéticas, conceberam visões de mundo e ideias políticas igualmente contrastantes. Em certa medida, essas várias gerações de intelectuais, até mais ou menos a década de 1970, se reivindicaram tributárias das linguagens lançadas pelas vanguardas estéticas modernistas emergentes no início do século e, em especial, da década de 1930, que ficou conhecida como a década das grandes interpretações do Brasil, graças ao empenho de intelectuais como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, entre outros. Assim, pode-se dizer que o ponto comum dessas várias formulações, bem como as que veremos a seguir, tem sido a tentativa de problematizar nossa identidade nacional.

Na literatura regionalista das décadas de 1940 e 1950, escritores como Guimarães Rosa (1908-1967), Graciliano Ramos (1892-1953), Jorge Amado (1912-2001), Érico Veríssimo (1905-1975), entre outros, construíram narrativas que procuraram superar o imaginário romântico e o olhar “exótico” por uma imagem realista, que explorasse os(as) indivíduos(as) e suas relações com o meio, a paisagem e a cultura das diversas regiões brasileiras. Em certa medida, esta mesma prosa de caráter realista aparece no teatro, sobretudo a partir da obra de Nelson Rodrigues (1912-1980), ao retratar a vida urbana da classe media carioca, bem como no cinema de Nelson Pereira dos Santos. No caso deste último, seus filmes “Rio, 40 graus” (1955) e “Rio Zona Norte” (1957) são exemplares do empenho em retratar a vida urbana, ao passo que “Vidas Secas” (1963) traduz para as grandes telas o drama dos retirantes nordestinos retratados no romance homônimo de Graciliano Ramos.


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