Caro professor, cara professora, entendam as reflexões anteriores como apenas o início, um ponto de partida, para uma estimulante “aventura sociológica”. Reiterando a apresentação do curso no Tópico 1, a abordagem sociológica nos leva a desafiar o conhecimento compartilhado sobre nossas rotinas, em geral tidas como autoevidentes, inquestionáveis, fundadas numa crença de que elas são, por serem tão familiares, “naturais” e “imutáveis”. Nesse sentido, a sociologia faz perguntas que têm o poder de abalar e de pôr em questão nossas certezas e convicções. Em suma, ela nos convida a desfamiliarizar o mundo vivido.
Cursista, a “provocação” acima foi feita em entrevista com o professor e doutor em Filosofia Fábio Mendes. Nessa entrevista, ele propõe, dentre outras coisas, a prática de “oficinas de estudo”, as quais poderiam ter um formato no qual os(as) jovens tivessem uma participação ativa no processo de construção de conhecimentos.
Partindo do questionamento levantado no título da entrevista, que na verdade não é necessariamente algo novo nas pesquisas sobre educação, vamos começar este item com algumas sugestões de encaminhamento, que predentemos que se materializem em diferentes atividades.
"O ponto principal é fazer com que eles (estudantes) notem que conseguem aprender por conta própria. Não é o professor que ensina, mas eles que aprendem. Quantas aulas os alunos têm sobre como estudar? Isso não faz parte do currículo escolar. E quantas vezes ao longo da vida escolar demanda-se que eles estudem? Você se motivaria a fazer uma atividade que não te dizem como fazer e te cobram o tempo todo?”, questiona o Fábio Mendes na entrevista mencionada. Em um mundo no qual os jovens estão o tempo todo em atividade, criando e avaliando conteúdos, Fábio defende que é preciso colocá-los para produzir. A lógica do estudo é quase a mesma das postagens nas redes sociais, arrisca.
Nesse sentido, professor e professora, pensemos em oficinas de estudo em que você poderá articular alguns temas e conceitos sociológicos vistos nos itens anteriores, abordados a partir do fio condutor do cancioneiro popular, em particular dos estilos musicais e seus processos de socialização e identificação. A ideia básica aqui é que as ferramentas digitais móveis, como celulares, smartphones e câmeras fotográficas, possam ser utilizadas em sala de aula e, com isso, adquiririam uma dimensão propriamente ligada à técnicas de investigação e pesquisa colaborativa com seus(suas) estudantes. Nesse sentido, a partir de agora disponibilizaremos uma sequência de sugestões de atividades/oficinas e que poderão explorar as questões que discutimos até aqui.
Caro(a) cursista, para as atividades desta e demais oficinas de estudos, sugerimos a utilização de celulares e/ou smartphones com acesso à internet, por serem mais fáceis de interagir, bem como por ser uma tecnologia que facilmente vocês encontrarão em sala de aula, com seus alunos(as). Como forma de dar continuidade ao trabalho iniciado no Tópico 1 - Socialização, em que buscamos conhecer um pouco mais os gostos e sociabilidades musicais de nossos alunos e alunas, indicamos mais alguns passos que servirão para aprofundarmos esse conhecimento. A nossa sugestão é que você cursista/professor(a) da disciplina comece criando um espaço de interação virtual para promover e centralizar esta atividade. No caso desta atividade, propomos desenvolvê-la no Facebook e por isso as orientações que seguem caminham nessa direção. A ideia é que os(as) alunos(as) também possam estar vinculados à plataforma que você tiver escolhido. É importante que seja dado um título a esta página, que pode ser uma referência ao tema e/ou conceito de sociologia que estiver utilizando em sala, ou mesmo se referir a uma articulação mais ampla, caso opte por realizar estas atividades com professores(as) de outras disciplinas. Uma vez aberta a página coletiva, sugerimos que cada aluno(a) faça o seguinte:
1. Inicialmente, é preciso criar uma conta (ou utilizar sua conta pessoal existente) no Facebook e criar um grupo, o qual deverá ter todos os(as) alunos(as) da sala. O recurso grupo do Facebook, é um espaço privado onde os membros podem compartilhar atualizações, fotos ou documentos, além de enviar mensagens a outros integrantes do grupo. Por é uma ótima ferramenta que pode ser utilizada em momentos de interação, conversa e aprendizagem!
2. Feito isso, sugerimos que os (as) alunos (as) indiquem um estilo de música ou um(a) artista(a) de que mais gostam e costumam ouvir, indicando um link para um vídeo representativo (pode ser no Youtube) e que deve ser postado na página coletiva. O ideal é que cada um apresente apenas um post. Você pode aproveitar para promover a interação entre a turma neste canal de comunicação virtual e estimular seus (suas) alunos (as) a comentarem de forma respeitosa a publicação dos colegas.
3. Se preferir, é possível adicionar ao Facebook um aplicativo de gerenciamento e compartilhamento de músicas à pagina pessoal, como o Soundcloud. Para saber como integrar este aplicativo ao Facebook, acesse o tutorial "Incluindo o soundcloud no Facebook"
1. Após conferir todas as músicas e estilos postados pelos alunos(as), o(a) professor(a) poderá, em sala de aula e com a ajuda dos (as) estudantes, listar os estilos que não foram escolhidos por ninguém da turma. Evidentemente, não precisa incluir “todos” os gêneros musicais, até porque dificilmente haveria espaço para tanta diversidade musical no mundo! Mas você pode, até para provocar os(as) estudantes, escolher aquelas sonoridades que, nos diálogos dentro e fora da sala de aula, tenham sido rejeitados. Feito este levantamento, o(a) professor(a), poderá fazer uma lista com os gêneros e estilos musicais ausentes e trazer alguns exemplos de vídeos e letras representativos de alguns destes gêneros e estilos musicais. Ao final, esta lista poderá ser compartilhada com a turma via Facebook ou outra rede social.
2. A ideia agora é tocar alguns deste vídeos da lista durante a aula e, enquanto cada música estiver tocando, solicitar a todos(as) que escrevam comentários acerca da música e/ou do artista em questão. Os comentários poderão ser feitos também na forma de uma carta para o(a) compositor(a) da música, imaginando em quais situações ela possa ter sido composta, expressando se gostou ou não da música e suas razões, bem como sugerindo mudanças em suas letras. O texto poderá ser publicado e socializado com os (as) colegas na página do grupo no Facebook, ou ainda, se possível, tentar localizar o artista na rede social e publicar a carta na página dele!
3. Uma vez feito isso para uma música, você pode propor realizar esta atividade com quantas mais julgar necessário!
Ao final desta primeira atividade, poderemos ter uma página coletiva da sala de aula com a seguinte sequência: um conjunto inicial de músicas mais representativas dos gostos estéticos do grupo com seus respectivos links e vídeos, e outro conjunto composto daquelas que não foram selecionadas por ninguém, com vários comentários em cada uma delas. O exercício sociológico desta atividade consiste em comparar o “silêncio” a respeito das sonoridades que nos soam familiares, com as expressões acerca daquelas que menos gostamos, repudiamos e/ou desconhecemos.
Levando em conta o que vimos sobre os conceitos de socialização e identidades, a reflexão sobre os comentários relativos aos estilos musicais (tanto os aceitos quanto os não apreciados) pode levar em conta algumas reflexões, que o(a) professor(a) poderá fazer com seus (suas) estudantes.
A rigor, o que o(a) professor(a) poderá analisar sobre os gostos estéticos de seus estudantes são as representações sociais que os mesmos estabelecem e compartilham entre si, e que podem ser concebidos, ou não, como parte do senso comum. No entanto, como já deixamos claro ao longo das exposições nos tópicos anteriores, compreender sociologicamente a construção histórica das representações e do próprio senso comum constitui o cerne desta atividade, além de promovermos um espaço que podemos conhecer ainda mais o universo social em que nossos(as) jovens estão inseridos(as). A partir destas considerações, e por meio da apreciação ou não de certos estilos musicais, os(as) estudantes, orientados(as) pelo(a) professor(a) da disciplina de sociologia, poderão fazer uma espécie de análise sociocultural da própria turma, considerando também suas vivências musicais familiares.
As questões abaixo sugeridas podem ser feitas na forma de um questionário a ser respondido na forma de “comentários” na própria página da rede social do grupo. Ao final, o(a) professor(a) poderá projetar esta página numa tela em sala de aula e suscitar algumas questões sobre a atividade. Abaixo indicamos algumas das perguntas para o questionário.
Este gênero / estilo / música do qual eu gosto / ou não gosto – ou desconheço –, é apreciado por quais grupos sociais? (No caso, os estudantes da sala de aula serão convidados a fazer uma leitura de sua própria “localização” socioeconômica e/ou socioespacial).
Qual a composição socioeconômica deste(s) grupos? Se forem estilos específicos de uma determinada região do país ou de outros países, identifique esta territorialidade.
Este estilo/música é mais representativa de um grupo étnico específico? Ou é expressão de alguma determinada religião?
Como eles acham que os homens, mulheres, e outros gêneros são retratados nas letras desse estilo? Ou, como eles se inserem nas diferentes sociabilidades construídas por esses estilos musicais.
Professor(a), você poderá ampliar o rol de perguntas sobre as sonoridades e estilos musicais, de forma a complexificar a discussão sobre os processos de socialização e identidades.
Lembre-se de atentar, também, para a mediação existente entre a proposta pedagógica da atividade e os recursos digitais que sugerimos como suporte. O nosso objetivo é que eles funcionem como mobilizadores dos temas e conceitos sociológicos que aparecem ao longo da atividade.