Caro(a) cursista/professor(a), sugerimos a atividade abaixo como forma de explorar a controvérsia a respeito das formas de compreensão do conceito de socialização (como vimos, as perspectivas de interiorização e as de distanciamento). Os(as) estudantes poderão acompanhar as letras das músicas através de seus celulares e smartphones (ou por outros meios que você acredita que mais se adequam a sua realidade) e você poderá orientá-los com os textos (alguns dos quais já indicados neste curso) que auxiliarão em sua compreensão.
Alternativamente, você poderá exibir também, de forma projetada numa tela, as aulas sugeridas abaixo para iniciar a discussão. Além disso, poderão ser utilizadas as músicas que indicamos em seguida.
Trecho da Música
"São Paulo, dia 1º de outubro de 1992, 8h da manhã.
Aqui estou, mais um dia.
Sob o olhar sanguinário do vigia.
Você não sabe como é caminhar com a cabeça na mira de uma HK.
Metralhadora alemã ou de Israel.
Estraçalha ladrão que nem papel.
Na muralha, em pé,
mais um cidadão José.
Servindo o Estado, um PM bom.
Passa fome, metido a Charles Bronson. (...)
Cada detento uma mãe, uma crença.
Cada crime uma sentença.
Cada sentença um motivo, uma história de lágrima, sangue, vidas e glórias, abandono, miséria, ódio, sofrimento, desprezo, desilusão, ação do tempo.
Misture bem essa química.
Pronto: eis um novo detento
(...) A vida bandida é sem futuro.
Sua cara fica branca desse lado do muro. (...)
Trecho da Música
Eu tô aqui Pra quê?
Será que é pra aprender?
Ou será que é pra sentar, me acomodar e obedecer?
Tô tentando passar de ano pro meu pai não me bater
Sem recreio de saco cheio porque eu não fiz o dever
(...)
Eu quero jogar botão, vídeo-game, bola de gude
Mas meus pais só querem que eu "vá pra aula!" e "estude!"
Então dessa vez eu vou estudar até decorar cumpádi
Pra me dar bem e minha mãe deixar ficar acordado até mais tarde
Ou quem sabe aumentar minha mesada
Pra eu comprar mais revistinha (do Cascão?)
Não. De mulher pelada
A diversão é limitada e o meu pai não tem tempo pra nada
E a entrada no cinema é censurada (vai pra casa pirralhada!)
A rua é perigosa então eu vejo televisão
(Tá lá mais um corpo estendido no chão)
(...)
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Decoreba: esse é o método de ensino
Eles me tratam como ameba e assim eu não raciocino
Não aprendo as causas e conseqüências só decoro os fatos
Desse jeito até história fica chato
Mas os velhos me disseram que o "porque" é o segredo
Então quando eu num entendo nada, eu levanto o dedo
Porque eu quero usar a mente pra ficar inteligente
Eu sei que ainda num sou gente grande, mas eu já sou gente
E sei que o estudo é uma coisa boa
O problema é que sem motivação a gente enjoa
O sistema bota um monte de abobrinha no programa
(...)
Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre
Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste
- O que é corrupção? Pra que serve um deputado?
(...)
Não me faça decorar as capitanias hereditárias!! (...)
Vamos fugir dessa jaula!
"Hoje eu tô feliz" (matou o presidente?)
(...)
Encarem as crianças com mais seriedade
Pois na escola é onde formamos nossa personalidade
Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância a exploração e a indiferença são sócios
Quem devia lucrar só é prejudicado
Assim cês vão criar uma geração de revoltados
Tá tudo errado e eu já tou de saco cheio
Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio...
Trecho da Música
Diga, quem você é me diga
Me fale sobre a sua estrada
Me conte sobre a sua vida
Tira, a máscara que cobre o seu rosto
Se mostre e eu descubro se eu gosto
Do seu verdadeiro jeito de ser
Ninguém merece ser só mais um bonitinho
Nem transparecer consciente inconsequente
Sem se preocupar em ser, adulto ou criança
O importante é ser você, mesmo que seja, estranho
Seja você, mesmo que seja bizarro bizarro bizarro
Mesmo que seja, estranho, seja você, mesmo que seja
(...)
Meu cabelo não é igual
A sua roupa não é igual
Ao meu tamanho não é igual
Ao seu caráter não é igual
Não é igual, não é igual
Não é igual
Trecho da Música
Aqui nessa casa
Ninguém quer a sua boa educação
Nos dias que tem comida
Comemos comida com a mão
E quando a polícia, a doença, a distância, ou alguma discussão
Nos separam de um irmão
Sentimos que nunca acaba
De caber mais dor no coração
Mas não choramos à toa
Não choramos à toa
Aqui nessa tribo
Ninguém quer a sua catequização
Falamos a sua língua,
Mas não entendemos o seu sermão
Nós rimos alto, bebemos e falamos palavrão
Mas não sorrimos à toa
Não sorrimos à toa
Aqui nesse barco
Ninguém quer a sua orientação
Não temos perspectivas
Mas o vento nos dá a direção
A vida que vai à deriva
É a nossa condução
Mas não seguimos à toa
Não seguimos à toa
Volte para o seu lar
Volte para lá
Volte para o seu lar
Volte para lá
Como pudemos perceber, as letras acima expõem diversas óticas que podemos articular com os conceitos e as perspectivas sobre socialização. Através da letra de “Diário de um detento”, que expressa o cotidiano de um presidiário, podemos exercitar abordagens distintas sobre o mesmo fenômeno, qual seja, o encarceramento, a vida em instituições fechadas, como prisões, manicômios, internatos, conventos, etc.
Na letra de “Estudo Errado”, Gabriel o Pensador expressa a sua (bem como a de muitos jovens) aversão a formas tradicionais de ensino, que consistem mais na imposição da disciplina e na homogeneização de comportamentos e atitudes. Ao perguntar sobre o sentido da escola: “Eu tô aqui Pra quê? Será que é pra aprender? Ou será que é pra sentar, me acomodar e obedecer?”, o músico apresenta uma crítica ao processo à escola como agência socializadora.
Na música e letra da cantora Pitty, a artista expressa a repressão da sociedade, as formas alternativas de comportamento, atitudes e valores, considerados “alternativos” ou “estranhos”. Com o refrão: “o importante é ser você, mesmo que seja estranho, seja você, mesmo que seja bizarro”, a cantora imagina ser possível assumirmos identidades ou reforçarmos nossa “personalidade” a despeito da “normalidade” social.
O documentário sobre Woodstock e a letra e música da cantora Marisa Monte, por outro lado, expressam situações que podem ser compreendidas à luz de perspectivas mais ligadas ao distanciamento. Tanto os movimentos juvenis que reivindicam a rebeldia ou o inconformismo social podem ser lidos nesta chave explicativa.
Com base nestas letras e documentário, e acompanhadas de leituras sociológicas como as indicadas acima, recomendamos solicitar aos(às) estudantes que escrevam comentários na página virtual do grupo, criada para estas atividades, de forma a responder algumas questões:
Quais as abordagens sociológicas que melhor podem responder às expressões ouvidas?
Cada letra pode ser “respondida” por uma abordagem alternativa? E qual seria?
Em que medida todas as letras acima podem ser indicativas de pertenças sociais distintas? Isto é, como é possível explorar certas formas de socialização e identidades representadas pelos respectivos artistas, como condição socioeconômica, situação de “classe social”, escolarização, etc.